A lei do "far west" sempre foi uma prática comum... e continuam a permiti-la.

As imagens que nos chegaram ontem do jogo Porto - Casa Pia envergonham-me. Enquanto Português, porque infelizmente estas imagens correm muito mais depressa pela Europa do futebol do que o golo do Gonçalo Ramos em Portimão, enquanto amante do desporto, porque isto vai contra tudo o que é o desporto, mas acima de tudo enquanto defensor da verdade desportiva.

Quão condicionado é um árbitro quando visita as Antas? Ainda para mais sendo do Porto? 

Ainda que seja uma pessoa idónea, ao não apitar conforme querem os azuis, o que estará ele a arriscar se é de uma cidade onde todos o conhecem. 

Imaginem o que será ter a cabeça a prémio na vossa própria cidade.

Ontem, uma vez mais esse condicionalismo foi bastante visível na forma como Conceição foi direito ao árbitro de punho cerrado e a gritar na cara do 4º árbitro. Vou esperar para ver se alguma coisa se passou (não sei se constará no relatório) e só se passa alguma coisa quando consta do relatório, as imagens não valem de nada... ou se Conceição estaria apenas furioso porque convidou o árbitro para ir jantar depois do jogo e Manuel Oliveira disse que não queria.

Também não parece que Luís "cão raivoso" Gonçalves tenha tentado bater em meia equipa do Casa Pia, treinador incluído, em dois bandeirinhas, e três stewards... pelo menos a avaliar pelo inexistente relatório.

Será que alguém sequer vai ser chamado à atenção pelos 22 minutos de intervalo? O que se terá passado nos balneários? Onde estavam os delegados da Liga?

Mas não é de hoje, este tipo de prática. 

Retirei o seguinte excerto da entrevista de Pacheco, antigo jogador do Benfica, ao jornal A Bola, onde é perceptível o que se continua a passar no corredor das Antas. 

 - Quando defrontavas o FC Porto como jogador já era assim?

- Era muito mais. Era assim vezes 6, 8 ou 10. Desde as pessoas nos mostrarem as pistolas, desde bruxarias espalhadas pelos corredores, desde ácidos nos balneários, desde não nos permitirem fazer o aquecimento no estádio principal e obrigarem-nos a ir para o campo secundário, passando estrategicamente pelo meio de centenas de adeptos a cuspirem-nos. Desde foguetes e motorizadas sem escape a noite inteira à porta dos hotéis onde estávamos a dormir…. Tudo. Tudo o que pode imaginar foi feito.


- Isso acontecia cada vez que jogavas no Estádio das Antas?
- Sempre. Sempre. Por exemplo: num dia de 30 graus fomos ver o relvado quando chegámos e estava completamente seco, depois já não conseguimos lá fazer o aquecimento e quando entrámos para começar o jogo as faixas laterais estavam completamente alagadas. Valia tudo! Desde o simples funcionário a chamar-nos nomes, a cuspir-nos e a ofender-nos. Tudo, tudo o que possa imaginar.


- Viveste isso só na década de 1980 quando eras jogador do Benfica ou também quando estiveste no Sporting?
- Nas décadas de 1980 e de 1990. O FC Porto tem um inimigo de estimação que é o Benfica e com o Benfica é tudo muito mais. No Sporting também, não tanto, mas também. O FC Porto não pode permitir que o Sporting se coloque no meio do seu inimigo de estimação. Por questões estratégicas quando é preciso apertar o Sporting eles apertam sempre. Foi visível o ano passado. Foi visível este ano.  A nós só nos restava tentar vencer independente dos aspetos exteriores. Convém dizer que o FC Porto nessas alturas também teve excelentes equipas com jogadores de altíssima qualidade. Ao longo dos anos as coisas começaram a ser mais expostas e, entretanto, desenvolveram novas técnicas. Hoje as coisas já são diferentes, com o mesmo objetivo, mas estratégias diferentes.


- Quais são agora?
- Vê-se. Bonecos pendurados nas pontes, ataques permanentes de toda ordem, ataques às casas do Benfica, ameaças a tudo e a todos, controlando as pessoas que estão ligadas ao futebol, ameaçando através das famílias e dos negócios. Acho incrível como é que até hoje, sendo o Benfica um clube tão poderoso na sua dimensão, e sendo a indústria do futebol uma coisa que tem uma economia tão forte, não se legisla tudo de forma a salvaguardar todos os clubes. É só fazer como vemos noutros países. Nada mais. Adorava que isso fosse feito aqui para que o nosso campeonato fosse de referência a nível europeu. Alguém tem que parar e pensar no futuro do nosso futebol e perguntar o que é que nos impede de ir mais além.


HBarreiros

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